Fraternidade dos Irmãozinhos de Jesus - Memoria
Corriam os anos sessenta do século
passado,o ABC Paulista industrialisava-se rapidamente e por necessidade de mão
de obra atraia levas de migrantes vindos de todo Brasil a procura de trabalho,a
industria automobilistica era o carro chefe de todo este processo.
A Diocese de Santo Andre,criada em
1954,que abrangia as sete cidades,Santo Andre,São Bernartdo,São
Caetano,Maua,Diadema,Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra tinha seu primeiro
bispo Dom Jorge Marcos de Oliveira,oriundo do Rio de Janeiro,que passaria a ser
conhecido como o Bispo dos Operarios, tamanho o seu engajamento nas lutas
sociais e solidariedade em prol da classe trabalhadora da região.
Vila Palmares,um bairro popular, encravado
nas divisas de Santo Andre,São Bernardo e São Caetano era a sintese destas
cidades operarias, foi o local escolhido pelo bispo,para que se instalasse a
primeira Fraternidade dos Irmãozinhos de Jesus, em casa simples,adquirida pela
diocese,na Rua Indianopolis 86, onde hoje construiu-se sobre os alicerces da
antiga residencia uma Capela de didicada a São João Batista.
Os primeiros religiosos a integrarem a
Fraternidade foram o brasileiro Francisco Pacheco que na epoca era carpinteiro
e o frances Roland, que era metalurgico e trabalhava em uma fabrica nas
cercanias,posteriormente vieram outros irmãos a saber Guiy Maurice Norel,Marc Saint Marie,Serafim Lana Moura,e Remi
todos operarios.
A casa onde instalou-se a fraternidade,era
simples,dividida em dois comodos na frente e outros dois nos fundos com um
sanitario comum...sendo que o comodo da frente era utilazado como uma capela
rústica e ao mesmo tempo aconchegante.A vizinhança era formada por casas de
familias muito proximas umas das outras...
Os irmãos relacionavam-se com os vizinhos
de maneira acolhedora e muito amiga, e os adultos e as crianças sempre estavam
por ali conversando.Relacionavam-se tambem com pessoal da comunidade paroquial
próxima e eram vistos com frequencia nas missas da Capela Nossa Senhora das
Graças do bairro vizinho, onde os moradores da Vila Palmares tambem
frequentavam, e foi onde meu pai João Padovani e minha mãe Helena os
conheceram,e os irmãos tornaram-se muito amigos e passaram a frequentar a casa
de meus pais. Com o passar dos anos a Vila Palmares cresceu rapidamente então
foi criada uma nova paroquia pelo bispo diocesano, Dom Jorge Marcos. Outro foco
de relacionamento dos irmãos eram os companheiros de trabalho e e seus amigos, que
passaram a ser frequentes na Fraternidade, além de inúmeros visitantes oriundos
de várias partes do pais e até do exterior, que queriam conhecer de perto essa
nova modalidade de vida religiosa junto ao povo pobre e simples!
Fato curioso, foi que o Irmão Francisco
resolveu mudar de profissão e ser pedreiro, foi aprender com meu tio Antonio o
oficio, trabalhando como servente de obras e sendo seu parceiro por longo tempo,ate
que finalmente dominou a arte.
Houve um movimento no bairro para a
fundação da Cooperativa Popular de Consumo de Vila Palmares, onde o Irmão
Francisco teve participação muito ativa e junto com o grupo liderado por Salvador Vegas, um
anião, oriundo do Partido Comunista, Leonas Benvindas oriundo da Acão Catolica,
e mais Waldomiro,Arlindo,Marinice,Chiquinho,entre outros, inclusive eu que fui o
primeiro secretário, escolhido porque, segundo eles minha letra era bonita. Reunido
o pequeno grupo, procuramos através do
Irmão Francisco,e tivemos o apoio de um pastor Metodista de São Paulo, Prof.
Teodoro Maurer, autor do livro COOPERATIVISMO, e da Federação das Cooperativas
Populares de SP. Fizemos um grupo de estudo sobre o cooperativismo e de como
organizar uma cooperativa. Num segundo momento fomos a luta para conseguirmos
um número mínimo de cooperados para que fosse viável o projeto,assim chegamos a
cerca 150 sócios que passaram a contribuir mensalmente com uma quantia para a
formação do capital inicial. Na sequencia alugamos um salão na rua Mamede Rocha
e abastecidos pela citada Federação, com grande entusiasmo inauguramos o nosso
primeiro armazém que funcionou durante três anos neste local. No bairro alguns
comerciantes reagiram rapidamente e começaram a concorrência com faixas que
anunciavam aqui “preços de cooperativa”. Mas havia um inimigo oculto a nos
combater “as famosas cadernetas de vendas a fiado” que faziam reféns a maioria
das famílias de Vila Palmares.Foi uma experiência bastante educativa e proveitosa
para nós que participamos deste projeto popular, porem depois de alguns anos
capitulamos!
Corriam os anos de chumbo, pois estávamos
em plena Ditadura Militar e Vila Palmares era um polo de resistência dos
trabalhadores, sendo que a Igreja de Nossa Senhora das Dores, tinha como pároco
o Pe. Rubens Chansseraux engajado na luta do povo e que foi preso várias vezes,
tambem bastante ligado a Fraternidade e junto com os irmãozinhos davam apoio moral e financeiro as famílias dos
vários trabalhadores engajados nas lutas populares e que encontravam-se presos
ou exilados.
Perto da Fraternidade tinha uma casa de
oração evangelica, onde Francisco ia algumas vezes e rezava com eles, e ao
final o pastor sempre perguntava a ele: Se tinha aceito Jesus? Ao que ele
respodia: Sim aceitei e já fazia tempo!
Os irmãos não tinham atividades pastorais,
mas somente presença e solidariedade com a parcela da igreja mais pobre!
Lá pelo ano de 1976 o Irmão Francisco
mudou-se para o Nordeste, precisamente para a cidade de João Pessoa, na
Paraiba, sendo acolhido por Dom Jose Maria Pires, Arcebispo da Paraiba, o Dom
Pelé, que criou a Fraternidade na periferia no bairro do Alto do Céu, onde por
uma temporada minha mãe Helena Padovani foi coabitar com os irmãos participando
de uma nova experiência de vida religiosa.
Tomas Jose Padovani